quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Decisão de manter Adilson Mariano no PT abre crise no partido

João Kamradt  no portal A Noticía

Depois de ver fracassada a tentativa de expulsão de Adilson Mariano, o PT de Joinville tenta administrar a crise que se instalou na corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), ligada ao prefeito Carlito Merss e que hoje é a maioria na legenda.

Na noite de terça, logo depois de ser anunciado o arquivamento do processo pela executiva estadual, os vereadores Manoel Bento e João Rinaldi entregaram o pedido de desfiliação.

Nesta quarta, depois de duas longas conversas, o prefeito acalmou os ânimos, pelo menos por enquanto. O acordo é que nenhuma decisão seja tomada até o julgamento dos recursos nos diretórios estadual e nacional.

A próxima reunião do PT de SC está marcada para sábado. No encontro, será colocada em votação a decisão da última terça-feira, que acabou arquivando o caso. O PT de Joinville tenta, até lá, trazer lideranças estaduais para uma conversa com os dirigentes locais.

Enquanto isso, o presidente Írio Côrrea trabalha no recurso que deve ser apresentado, na próxima segunda-feira, ao diretório nacional. A justificativa para o pedido de desfiliação deve ser a mesma: infidelidade partidária.

No material, vão entrar recortes de jornais, gravações de declarações na tribuna e o argumento de que o caso deve ao menos ser analisado.

— Queremos a expulsão do Mariano e vamos brigar por isso em todas as instâncias —, reforça Írio.

O mesmo argumento – de que a briga continua – é usado por Carlito Merss para contornar a crise no PT. Nesta quarta, por duas vezes, o prefeito se reuniu com o líder do governo Manoel Bento. Na primeira ocasião, logo cedo, acompanharam a conversa o vereador João Rinaldi, o chefe de gabinete Eduardo Dalbosco e o presidente Írio Côrrea.

No segundo encontro, à tarde, Carlito e Bento conversaram a sós. E o pedido foi colocado de lado. Pelo menor por enquanto. Belini Meurer, colega de bancada, também fala em se desligar da sigla se não houver uma "reviravolta no caso".

— Se os dois saírem, eu também saio —, disse.

Pivô da crise, Adilson Mariano acredita que os dois petistas que entregaram o pedido de desfiliação irão recuar e continuar no PT.

— Eu briguei para ficar e não acredito que eles vão brigar para sair. Pediram a desfiliação, mas continuam na sigla. Então, recuaram —, fala.

Entrevista com prefeito Carlito Merss

AN
– Como fica a situação do prefeito Carlito Merss e do PT de Joinville após o arquivamento da expulsão do Adilson Mariano?
Carlito Merss – Não assinei o processo. Mas esse grupo (do Adilson Mariano) vem desde 2003, quando o Lula assumiu, atacando sistematicamente o PT. O PSDB e o DEM não fazem uma oposição tão virulenta. Eu não sou do diretório municipal, sou apenas do estadual, mas 82% do pessoal de Joinville decidiu por expulsar o vereador. E lá no diretório estadual nem encaminharam o processo para a Comissão de Ética. Isso nos deixa numa crise generalizada. O problema não é o Carlito Merss. Querem é bater no PT.

AN – Qual vai ser a relação com Fritsch e a direção estadual?
Carlito – Sei lá. Essa atual direção é fruto de um grande acordo. Nós montamos todos os agrupamentos da Ideli (Salvatti), do Décio (Lima), do (José ) Fritsch e do (Cláudio) Vignatti numa chapa só. Só teve uma chapa que concorreu com a deles, que foi a do Adilson Mariano (houve outra chapa, liderada pelo vereador Antonio Battisti, de São José). Nós fizemos mais de 90% dos votos. Mas lá na estadual, eles pensam: "Ah não, mas ele (Mariano) veio até aqui, o coitadinho, assinou um documento se comprometendo a seguir as ordens do PT de Joinville e isso basta". É claro que o Mariano não vai fazer isso. Não fez até agora.

AN – O senhor pensa em se desfiliar do PT?
Carlito – Eu dediquei a minha vida ao PT. São 30 anos militando e não penso em me desfilar. Não é justo entregar a sigla para um grupo que defende a luta armada, a invasão de terra, que se associa com a extrema direita. Nós vamos lutar até o fim. O PT de Joinville está decidido e vai recorrer até a última instância.

AN – É possível reverter a decisão dos vereadores Manoel Bento e o João Rinaldi de sair do PT?
Carlito – Conversei brevemente com o Manoel Bento e com o João Rinaldi nesta quarta. Estamos tentando demovê-los da ideia de desfiliação. Não é justo e não vamos deixar eles saírem. Entendo o desejo deles. Imagina a humilhação que passam lá na Câmara, com o pessoal do Mariano rindo da cara deles. Mas vamos dar um jeito de segurá-los. Acreditamos que eles vão esperar os recursos serem julgados.

AN – E qual impacto que o senhor imagina que essa decisão pode ter na sua candidatura à reeleição?
Carlito – Não há como fazer campanha com quem é teu inimigo. Como vou estar no mesmo espaço com um cara que mobiliza a população para pedir meu impeachment? Mas não acredito que eu saia desgastado desse episódio. Quem sai é o PT.

AN – O senhor acredita que o arquivamento pode ser um recado do grupo de José Fritsch para Ideli Salvatti?
Carlito – Daí seria o fim do mundo. Não tem nada disso. Não tenho como interferir lá em cima (no governo federal). Fizemos o máximo para ajudar o grupo do Fritsch a conseguir cargos no governo federal.

AN – Foi uma derrota sua?
Carlito – Foi uma vitória desse grupo, mas não contra o Carlito, e sim contra o PT.

AN – Se o vereador fosse expulso, seria uma vitória do governo?
Carlito – O governo não tem nada a ver com isso. A expulsão do Mariano seria uma vitória do PT.

AN – Como resolver esse impasse?
Carlito – Não sei como resolver. Mas quem acha que é superior ao PT acaba saindo fora.

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