Para criticar as remoções forçadas e a falta de transparência nas obras para a Copa do Mundo de 2014, movimentos sociais organizam um protesto que deve ocorrer paralelamente ao sorteio das Eliminatórias, marcado para o próximo sábado, no Rio de Janeiro.
A intenção é mobilizar 2 mil pessoas para a manifestação. O grupo fará uma caminhada até a sede do evento promovido pela Federação Internacional de Futebol (Fifa), na Marina da Glória, na região central da cidade. A concentração está prevista para as 10h no Largo do Machado.
O protesto é organizado pelo Comitê Social da Copa 2014 e dos Jogos Olímpicos, que aproveita o primeiro grande evento antes do Mundial para chamar a atenção da imprensa internacional.
"A nossa questão não é o evento em si, mas os problemas que estão trazendo para quem mora aqui, principalmente para quem é pobre e será removido", afirmou Marcelo Braga Edmundo, coordenador da Central de Movimentos Populares e um dos organizadores da manifestação.
Segundo dados do Comitê Social e da Plataforma Brasileira de Direitos Humanos, Econômicos, Sociais e Culturais (Dhesca), mais de 20 mil pessoas de oito comunidades terão que ser desalojadas para obras até a Olimpíada.
"A maioria, na zona oeste, na Barra da Tijuca - epicentro dos Jogos - ou no entorno das vias expressas que serão abertas para os Estádios do Engenhão e do Maracanã e a Transcarioca (ligando o aeroporto internacional à zona oeste)", disse Marcelo Edmundo.
O Ministério Público Estadual questiona os procedimento de remoção, "em total desacordo com as leis e com a Constituição", segundo o subprocurador Leonardo Chaves, e avalia medidas judiciais contra a prefeitura.
O subprocurador, que colheu relato de habitantes em várias comunidades, destaca que a Secretaria de Habitação Municipal não tem oferecido alternativa de moradia ou indenização suficiente - o mesmo já ocorreu após os despejos em Vila Harmonia, Restinga e Recreio 2, na zona oeste.
"A prefeitura não está pagando as indenizações e os aluguéis sociais. Quando o faz, é em valor irrisório e por pouco tempo. As pessoas não conseguem comprar ou alugar casas, já que, com até R$ 400, têm dificuldades de arrumar fiador", afirmou o subprocurador.
"Famílias não vão conseguir se instalar em bairros estruturados e os efeitos nefastos dessa política serão sentidos ao longo do tempo, com mais comunidades em áreas de risco, por exemplo", advertiu.
Integrante do Comitê Social da Copa, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Carlos Vainer também questiona os custos com as obras do Mundial. Segundo ele, só a reforma do Maracanã, que passou por recentes reparos nos Jogos Pan-Americanos, há quatro anos, teve o valor inicial triplicado. Para ele, falta transparência com os gastos públicos.
"A situação é realmente grave. O processo todo é marcado por absoluta falta de informação, transparência, impossibilitando qualquer tipo de controle social ou público", afirmou Vainer.
O Comitê Organizador da Copa de 2014, que prepara uma grande festa para o sorteio das Eliminatórias, no sábado, com as 166 seleções participantes do Mundial e a presença de vários artistas, não retornou às insistentes tentativas de contato. A Secretaria Municipal de Habitação também não respondeu à reportagem.
Para organizar o sorteio das Eliminatórias, o Comitê Organizador Local (COL) da Copa gastou R$ 30 milhões, que tiveram como financiadores a Prefeitura e o Governo do Rio de Janeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário