domingo, 17 de abril de 2011

'O governo vai ter de aumentar a carga tributária', diz especialista

Fernando Dantas - O Estado de S.Paulo

O economista Samuel Pessôa, da consultoria Tendências, está perplexo com a falta de ação da presidente Dilma Rousseff diante dos problemas que se acumulam na gestão da economia.
Ele avalia que Dilma está na culminância do seu capital político e deveria, como Lula em 2003, fazer as "maldades" necessárias para tornar possíveis os múltiplos objetivos perseguidos pela política econômica: crescimento, controle da inflação, câmbio competitivo para a indústria e uma política de grandes aumentos do salário mínimo a partir de 2012.
De forma polêmica, Pessôa diz que a solução é aumentar a carga tributária, embora fosse melhor não ter o forte gasto da atual regra de aumento do mínimo. A seguir, a entrevista:

Como o sr. vê a política econômica hoje?
Acho que a qualidade da política econômica está se deteriorando rapidamente. Na política monetária, o Banco Central resolveu brigar com o mercado no que diz respeito à formação de expectativas, aparentemente abraçando teorias superexóticas de que os juros são altos porque existe uma convenção no mercado que força as estimativas acima do que seria razoável. O que obrigaria o Banco Central a praticar juros muito altos. Para mim, a inflação está saindo de controle. É possível que eu esteja muito pessimista e o Banco Central tenha razão. Mas olhando o mercado de trabalho do jeito que está, o subíndice de inflação de serviços com 8,5% acumulado em 12 meses, acho que não é o caso. Acho que a inflação não vai convergir para a meta. E a gente vai ter em algum momento do ano que vem um choque de juros, o que é péssimo.

E quanto ao câmbio?
Certamente tem também (uma deterioração) na política cambial. A gente hoje está vivendo na prática quase um regime de câmbio fixo. A compra de reservas é feita para defender uma certa paridade que evidentemente os fundamentos não permitem e, portanto, me parece que a Fazenda está perdendo essa batalha. É claro para o mercado que o câmbio é esse aí ou para baixo, porque os fundamentos puxam para baixo, e não para cima.

Quais fundamentos? O câmbio não está sobrevalorizado?
Houve um choque positivo no preço das commodities que o Brasil exporta, o que aumenta as divisas que entram no País. Se a gente fizer um calculozinho de câmbio real de equilíbrio em função de passivo externo e do preço de commodities, vamos concluir que o câmbio hoje está desvalorizado em 5%. Então o mercado enxerga os fundamentos e sabe que o câmbio é para baixo. Por outro lado, o diferencial de juros é muito alto. O ganho de colocar dinheiro aqui dentro é muito alto e a pressão para a entrada de recursos é muito grande. Veja a entrevista completa aqui

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