domingo, 17 de abril de 2011

Ex-ministro revela que Lula vetou alta de juros no fim de seu mandato

Do O Globo

No último mês do seu governo, em dezembro, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou a retomada da alta de juros. Pouco antes, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, apresentou a Lula análises técnicas que revelavam a necessidade de aperto monetário, diante da escalada insistente da inflação e da deterioração das expectativas dos agentes econômicos. Segundo relato feito por um ministro da gestão anterior ao GLOBO, o ex-presidente foi enfático ao negar essa possibilidade em uma conversa com Meirelles. O adiamento do aumento da Taxa Selic, na avaliação unânime do mercado, dificultou a tarefa do BC de abrandar a fervura da inflação.

Como mostra reportagem de Gerson Camarotti, publicada pelo GLOBO neste domingo, na época, prestes a concluir o segundo mandato, Lula estava com popularidade elevadíssima e sinalizou para interlocutores que não tomaria uma medida impopular como a retomada da alta dos juros, faltando pouco para entregar a faixa presidencial a Dilma Rousseff. Isso sinalizaria um descompasso com o discurso de que entregava para a sucessora um governo com fundamentos econômicos sólidos.

"Não vai ter aumento dos juros no fim do meu governo. Agora, esse é um problema da Dilma. Fale com ela. Se tiver que subir juros, será no governo dela", teria dito Lula a Meirelles, segundo relato de um ministro.

No dia 8 de dezembro, na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a Selic foi mantida por unanimidade em 10,75% ao ano. Fora o terceiro encontro do Copom, desde julho, no qual a taxa ficou estável.

Acabou prevalecendo o ponto de vista de Lula, observou um assessor palaciano. Com isso, sobrou para o governo Dilma o desgaste político de retomar a subida dos juros, o que aconteceu em janeiro e fevereiro. Oficialmente, sempre foi negada pelo Planalto e pelo BC qualquer interferência na condução da política monetária.

Segundo integrantes do governo Lula, para manter a Taxa Selic sem descuidar do controle da inflação, o BC teve que anunciar, dias antes da reunião do Copom, em 3 de dezembro, a elevação dos compulsórios e a consequente retirada de R$ 61 bilhões da economia. Também foram instituídas barreiras ao financiamento de longo prazo. A medida contribuiu para pressionar a elevação dos juros bancários e conter a expansão do crédito - um dos pilares do consumo e da inflação.

Hoje, há o reconhecimento reservado dentro do Palácio do Planalto de que a retomada da elevação dos juros deveria ter acontecido em dezembro, assim como a aplicação de medidas macroprudenciais. Na ocasião, o Banco Central argumentou oficialmente que "prevaleceu o entendimento entre os membros do comitê de que será necessário tempo adicional para melhor aferir os efeitos dessas iniciativas (medidas macroprudenciais) sobre as condições monetárias".

Em dezembro, O GLOBO antecipou que, ainda na transição, Dilma já estava preparada para endossar a retomada da alta dos juros. O início de um novo ciclo de aperto monetário era visto como o primeiro grande teste na área econômica. O recado foi uma forma de dar um sinal público ao mercado de que o BC teria autonomia na sua gestão.

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