segunda-feira, 26 de março de 2012

Demóstenes teria recebido verba de caça-níqueis

Do O Estado de S.Paulo
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, avalia se pede ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de inquérito para investigar o senador Demóstenes Torres (DEM), envolvido em denúncias de suposta cobrança de propina e favorecimento pela máfia dos caça-níqueis em Goiás.

A situação do parlamentar se complicou depois da divulgação de informações, pela revista Carta Capital, de que receberia 30% da arrecadação do empresário de jogos de azar, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com o jogo ilegal para alimentar o caixa 2 de campanha eleitoral. Também ontem, outra reportagem do jornal O Globo mostrou que grampos da PF revelaram que o senador pediu dinheiro e vazou informações oficiais a Cachoeira.

Segundo a reportagem publicada ontem no site da revista, três relatórios do delegado Deuselino Valadares dos Santos, ex-chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros da PF em Goiás, informam que o senador recebia comissão sobre a arrecadação do esquema, que teria arrecadado R$ 170 milhões em seis anos. A parte do parlamentar seria de R$ 50 milhões, dinheiro que seria destinado à sua futura campanha ao governo do Estado.

Os documentos integrariam relatório da Operação Monte Carlo, que prendeu 35 pessoas em 29 de fevereiro, entre elas Cachoeira e o próprio delegado. Deuselino teria parado a investigação depois de ser "comprado" pelo grupo do empresário e Demóstenes. Também estariam envolvidos os deputados Carlos Alberto Leréia (PSDB), Jovair Arantes (PTB) e Rubens Otoni (PT).

Um dos documentos citados relataria que, após uma investida da PF para estourar um cassino do advogado Ruy Cruvinel, envolvido no jogo do bicho, ele contou que, dos R$ 200 mil mensais arrecadados, 50% iriam para Cachoeira e outros 30% para o senador.

Já reportagem de O Globo mostrou que numa das gravações da PF o senador apareceria pedindo que Cachoeira lhe pagasse uma despesa de R$ 3 mil com táxi aéreo. Em outra, faria confidências sobre reuniões reservadas com autoridades.

Gaveta. O caso ficou parado por dois anos e meio. Ontem, a procuradoria informou que a apuração sobre os dados, remetidos em 2009 pela Justiça, ficou suspensa aguardando a conclusão de outra investigação em curso, mas, recentemente, os documentos foram anexados à Monte Carlo.

Os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Pedro Taques (PDT-MT) e o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) vão pedir na terça-feira explicações a Gurgel sobre quais providências tomou em 2009 sobre o relatório, que também aponta o envolvimento de Leréia e Sandes Junior (PP) com Cachoeira. "A PGR não pode mais retardar as investigações", afirmou Randolfe.

Ele e Taques haviam apresentado ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), representação para apurar as denúncias que envolvem Demóstenes. Segundo Randolfe, com os novos fatos, tornou-se "inevitável" que Sarney despache o pedido para a corregedoria ou para o Conselho de Ética do Senado.

Defesa. O advogado de Demóstenes, Antônio Carlos de Almeida Castro, disse que seu cliente nega "peremptoriamente" as acusações de que recebia 30% da arrecadação de Cachoeira. Segundo ele, a matéria é "uma ofensa" e os relatórios da PF citados, "fantasiosos". O senador informou ao advogado que uma pessoa próxima de Cruvinel disse que ele negou ter implicado o senador em depoimento.

Sobre o pedido de dinheiro ao empresário, o advogado informou que o senador só vai se pronunciar depois de conhecer as denúncias. Ontem, ele protocolou na PGR o segundo pedido para ter acesso aos documentos.

Leréia não se pronunciou ontem. Sandes Júnior, Jovair Arantes e Rubens Otoni não foram localizados pelo Estado.

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